sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

CONHEÇA UM POUCO MAIS SOBRE A HISTÓRIA E A FILOSOFIA DA ARTE DO BONSAI.

HISTÓRICO

Foi na China na época dos Tsin (Sec. III AC) que surgem os primeiros indícios desta arte. Tanto no transcurso da Dinastia Tang (618-907) quanto na Dinastia Song (960-1276) aparecem referências sobre uma mulher que carrega um Bonsai com as duas mãos, como também um homem que "sabia criar em uma só bandeja (vaso raso) uma impressão de imensidade num pequeno espaço". Também entre os seculos X e XII, os p'en-tsai (árvores recolhidas na natureza e replantadas em seguida em vasos decorados), aparecem no extremo Oriente pelos monges budistas. Encontramos indícios de numerosas pinturas chinesas na epoca dos Song, que representam árvores miniaturizadas e plantadas em vasos decorados.
Até então, o Bonsai era uma arte reservada apenas à nobreza. Por volta do sec. XII os p'en-tsai entram no Japão através de um emigrante, e até meados do sc. XIV (período de Kamakura) se observam as primeiras alusões sobre esta arte. Num pergaminho de um monge budista, foram encontradas pinturas de bonsai e que datam aproximadamente do sec. XII. Existe uma história contada por Seami (1363-1444), no teatro do regente de Kamakura, Hojo Tokioro, para quem um homem pobre chamado Tsuneyo queimara os três bonsai que representavam seus únicos bens, com a finalidade de aquecer-se.




Ideograma japonês que representa a palavra bonsai

Na epoca de Edo (1615-1867) houve um grande interesse pelas árvores com colorido, trabalhadas e cultivadas em vasos rasos. Os Bonkei eram paisagens sobre bandejas, e os bonsai as árvores cultivadas em vasos. Nos primeiros se encontram os elementos básicos da natureza (água, montanha, areia, vegetação). Nos segundos se observa em primeiro plano o ser, a criatura. No Japão, as pessoas de classes ricas se encantaram lentamente pelos bonsai. Os exemplares que conseguiam obter eram considerados como ornamentos de suas casas como também representavam sua estrutura familiar. A partir de então, a cultura do bonsai foi sendo introduzida pouco a pouco em todas as classes sociais; as classes populares foram as últimas a dedicarem-se a eles, há apenas uma centena de anos. Na atualidade, o bonsai se estende por todo o Japão.
Na Europa: No sec. XIX os viajantes descobrem o Oriente e trazem esta arte para a Europa. Houveram algumas publicações sobre o assunto, porém, foi depois da primeira Guerra Mundial que aparecem os sérios tratados sobre os procedimentos empregados pelos japoneses para obter árvores pequenas. O embaixador da França no Japão, Paul Claudel, sentiu-se surpreendido, quando, sentado admirado diante de um bosque de Acer (árvore de folhas caducas, muito comum no Japão), trabalhados em bonsai, explicou que não podia deixar de imaginar-se a si mesmo, em um destes Acer, e que tinha a impressão de ouvir o gorjeio dos pássaros em seus galhos. Entre as duas guerras, o florista parisiense André Baumann importou vários bonsai para satisfazer o pedido de algumas pessoas interessadas pela cultura do extremo Oriente. Atualmente, todos os países da Europa conhecem o bonsai. Existem clubes, associações, centros, que reunem pessoas interessadas, trocam experiências, comercializam, promovem cursos e divulgam trabalhos. Um dos maiores centros de Bonsai da Europa é o SAT Mistral, na Espanha, principal importador europeu de produtos orientais para bonsai e complementos para seu cuidado.
No Brasil, apesar dos poucos dados, e por ser bastante recente a história do bonsai, foi a partir de 1909, quando o vapor Kasato-Maru ancorou no porto de Santos trazendo os primeiros imigrantes japoneses, onde provavelmente teriam vindo, um ou mais exemplares de bonsai, partindo-se do princípio de que alguns imigrantes trouxeram consigo pertences de grande estima, que os fizesse lembrar de sua terra natal. É o que comenta o autor do livro "Cultivando bonsai no Brasil", Fábio Antakly Noronha. Dentre esses imigrantes encontram-se: Alfredo Otsu; Kensaburo Hadano; Hideshingue Ono; Osamu Hidaka. Foi Hadano quem inicialmente começou a comercializar estes exemplares.


MESTRE - Mais tarde, em 1953, chega ao Brasil o jovem Jiro Mizuno. Técnico em cerâmica, formado pela escola técnica de cerâmica em Gifu-Ken e de família por tradição de ceramistas de várias gerações. Jiro vem ao Brasil, contratado por uma firma de porcelana em São Paulo. Mais tarde ele próprio funda sua empresa, fabricando vasos para Bonsai, que não existiam na epoca. Em 1960 começa a fazer Bonsai, motivado pela experiência que teve com seu pai (seu pai fazia bonsai de azaléas), aprimorando técnicas com a ajuda de mestres mais idosos, como sr. Kodama, sr. Iwazaki, sr. Kokiso e também com muita leitura de livros especializados. Ao falecer, em 1994 aos 63 anos, Jiro deixou plantado no coração de seus discípulos a dedicação e amor a arte e a lição de humildade de um homem que se colocou como parte da natureza, de suas qualidades.
"Esses imigrantes trouxeram em sua bagagem o conhecimento da técnica e a experiência do cultivo e possibilitaram, através de seus descendentes, a difusão da arte. Porém, ainda assim, é difícil para nós ocidentais perceber a dimensão contida na sua prática. O oriental encontra seus valores a partir de dentro como um aspecto do espírito, onde a existência é capaz de estender-se além do eu".

Carlos Tramujas com seu Mestre Jiro Mizuno




FILOSOFIA


O ELEMENTO INSPIRAÇÃO - O fato de que o Bonsai pode inspirar e elevar o espírito humano é aceito pela maioria das pessoas. Sua origem tem um significado religioso e filosófico. Assim como os arranjos florais japoneses que são usados para adornar o tokonoma (altar da casa familiar japonesa), também são usados bonsai como um ato de culto com o mais profundo sentido espiritual da vida. Como um longo processo, nascido de uma visão interiorizada de uma árvore em seu habitat natural, transformado em obra de arte, é capaz de evocar sentimentos de beleza, graça e grandeza. A dedicação, a observação, a perseverança, a disciplina, a humildade e a determinação são todos fatores preponderantes em nossas vidas, assim como nos bonsai. Em todo bonsai se encontra a forma do triângulo : Deus - Terra - Homem; o bonsai une a terra ao céu, se converte em alegoria concreta ao conduzir o homem pela rota do espiritual. Se conta a história daquele velho sábio que explicava sobre seu rosto jovem e liso por sua devoção ao bonsai: ao contemplar sua obra, não podia envelhecer, já que "se as flôres murcham no inverno, em sua casa estão sempre abertas". O bonsai, imagem interior, simbolo da eternidade - elimina o tempo, reflete a harmonia entre o homem e a natureza, entre o céu e a terra.
PRINCÍPIOS DE ESTÉTICA - Como arte, os bonsai tem certos princípios de estética que podem ser analisados e estudados, os quais estão baseados nas linhas estéticas das artes chinesas e japonesas. Por tanto, para apreciar a estética do bonsai, é necessário entender em que contexto estas artes se desenvolveram.
Originam-se quase todas no taoísmo e no budismo, com disciplinas complexas e muito técnicas, baseadas nos princípios fundamentais de "wabi" e "sabi". Wabi, significa literalmente "pobreza" ainda que esta tradução não reflita a riqueza de seu verdadeiro significado. Pobreza neste sentido, significa não ser dependente de possessões materiais. Pressupõe que esta pobreza externa autentifica a riqueza interior, devido a presença de algo de valor superior a presença de meras possessões. Em termos intelectuais e artísticos, o wabi encontra-se em pessoas que não caem em complexidades estruturais, de expressão adornada em excesso ou de pomposidade na auto-estima. "Sabi" por outro lado, denota "solidão", ainda que em termos estéticos seu significado seja muito mais amplo. Um elemento de antiguidade também está implicado, principalmente se combinado com uma primitiva falta de sofisticação. Encontramos Sabi nos utensílios usados nas cerimônias do chá. Portanto, Sabi é graça combinada com antigüidade.
Permeadas com estes atributos, encontramos as qualidades do amor à natureza, preferência pelo desequilíbrio e a assimetria, evitando a abstrção, o intelectualismo e o automatismo. Em adição a Wabi e Sabi, existem sete características mais que são consideradas como expressões do Zen em uma obra de arte, e combinam os conceitos de Wabi e Sabi: assimetria; simplicidade; sublimidade austera; naturalidade; profundidade sutil; liberdade de movimento e tranqüilidade. Uma ou mais dessas qualidades podem predominar em uma determinada obra artística, porém todas devem estar presentes, em certo grau, para criar uma harmonia que caracterize esta obra.
Estes princípios podem parecer mais abstratos e remotos para o principiante, porém com o tempo deverão ser uma parte intrínseca de sua aproximação global ao desenho criativo. Com estes conceitos em mente, se deveriam estudar as grandes obras reproduzidas nos livros de bonsai.

1 comentários:

ter um bonsai é algo magico...
ganhei um e ainda nao tive coragem de poda lo...

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